quarta-feira, 18 de janeiro de 2017

O sonho do Faraó




Em uma noite, o Faraó teve um sonho. Um sonho estranho, com um significado obscuro. Logo, recorreu a todos os sacerdotes e sábios do reino do Egito, mas ninguém soube explicar seus devaneios noturnos. Se Freud fosse chamado para prestar explicações ao Rei diria que seu sonho foi uma expressão do seu inconsciente, desvelando seus desejos e aspirações mais profundas. Se o Faraó tivesse contatado Jung, por outro lado, ele o aconselharia a prestar atenção nos sinais e nos símbolos que estavam presentes em suas visões. Para este outro, os sonhos mostram a realidade que o cercava, uma expressão do inconsciente coletivo, de forma simbólica. Infelizmente para o Rei do Egito, ele viveu muitos milênios antes dos psicanalistas. Teve, então, que recorrer, como sua última esperança, ao hebreu José, filho de Israel.

Deus age através dos fatos, dos acontecimentos. Eis a grande barreira da fé: a sensibilidade de vislumbrar a ação divina nas coisas mais corriqueiras do cotidiano. Aqueles que alcançam a plenitude da fé conseguem observar as situações terrenas com os olhos de Deus. José tinha este dom e usou-o para ganhar a confiança do Faraó e sair do encarceramento que o mantivera isolado por vários anos. Com uma visão que deixaria Jung orgulhoso, o hebreu observou os símbolos presentes nos sonhos do Rei e os analisou no contexto social do povo Egípcio. Com isso, José adotou uma política pública adequada, que salvou o povo da miséria e da fome iminente.

Para os antigos, os sonhos eram a forma com que Deus se comunicava diretamente com as pessoas. Utilizando uma abordagem junguiana, podemos entender os sonhos como uma expressão daquilo que nos permeia socialmente, mas não são ações deliberadas: o famoso inconsciente coletivo. Esta coletividade interfere no que cada um sente e deseja. Nossos sonhos são reflexos do que acontece em nossas vidas, do que entramos em contato dia após dia.

Somos permeados por milagres. Muitos deles, não somos capazes de compreender. Em alguns isso gera frustração, ódio. Mas, assim como José nos ensina, um dos objetivos da fé é a abertura ao inexplicável, não como algo misterioso ou obscuro, mas como um horizonte de possibilidades a serem exploradas sem medo, pois a trilha divina é uma estrada esburacada, com pedágios e sem retornos, mas que nos leva onde devemos chegar.

Talvez nos falte uma dose de humildade, para os ajoelharmos perante ao desconhecido e deixarmos que ele nos guie através de nossa caminhada. Ou talvez nos falte certa coragem para isso.

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