quinta-feira, 31 de dezembro de 2015

Olá, 2016. Sou eu!


Sabe, a primeira música que eu escutei em 2015 foi "Hoje!", da Ludmilla. No momento que eu escrevo esse texto, a música que está na minha mente é, infelizmente, uma do Wesley Safadão (nem sei o nome, o que me deixa um pouco mais aliviado). Acho que nesse instante que estamos 99% em 2016, mas ainda com aquele 1% em 2015, não existe maneira melhor de descrever como eu me sinto em relação ao que passou do que observar o histórico musical desse ano.

Quer dizer, a música da Ludmilla pode não ser considerada uma obra prima fantástica da história da música brega brasileira, mas é bastante animada e carismática. E combina muito bem com o clima de começo de ano: fala sobre propostas, diversão, expectativas, pegação e outras coisas mais que as pessoas esperam para um futuro próximo. Poderia muito bem tocar no Show da Virada da Globo se substituíssemos a palavra "hoje" por "nesse novo ano" e colocarmos o Roberto Carlos pra cantar. Talvez um pouco mais lenta também, para acompanhar os fogos de Copacabana. Ou alguma outra coisa que a emissora faz para tirar toda a graça das coisas legais. Enfim, cheio de expectativas, nosso ano começou. Ou começou só depois do Carnaval.

Carnaval é algo curioso. Ele está encaixado no calendário de modo milimetricamente perfeito para fazer com que esqueçamos completamente nossas resoluções de ano novo e voltemos para a mesma rotina tediosa/confortável que levávamos antes. Talvez ainda mais igualmente tediosa/confortável. De "novo"? Só teve o nome (ou número). E uns hits de carnaval a mais, que eu não dou a mínima. Iniciado 2015, finalmente, vivenciamos muitas emoções diferentes. Saudades, como descritas por Wiz Khalifa; tristezas, nas palavras de Adele; bagunças, do Baile de Favela; algumas viradas de página bem-humoradas da Taylor Swift e seus espaços em branco; rolaram até umas desculpas atrasadas (e ineficientes). Cada dia, cada experiência, cada música. Tudo pareceu se encaixar perfeitamente, como em um teatro Grego, em todos os seus momentos de sorrisos e de lágrimas. Chato seria se fosse diferente.

Nesse momento, nos resta tirar 1% do 1% do ano que sobrou (mais ou menos 40 minutos, para aqueles que são de humanas) e olhar cautelosamente para trás. Eu gosto de insistir, mesmo me achando sempre um cara extremamente boçal por fazer isso, que o ano só termina quando você decide que ele chegou ao fim. Nada adianta esperarmos mudanças se nós não saímos do lugar; nada vale esperarmos soluções se nós não conseguirmos ver os problemas em nós mesmos; nada adianta querermos a paz, se não aprendermos a semear o amor;

Resumindo, em 2016 não seremos 99% anjos se continuarmos 40% vagabundos. Resumindo o resumo, renove-se para buscar novos ares, aprendendo com o que passou e olhando para frente. Não existem recomeços! Resumindo o resumo do resumo, amem mais! Só o amor é capaz de ser mais poderoso que o dinheiro, só a compaixão é capaz de mudar uma vida (ou várias). Só a fraternidade acabará com as injustiças do nosso mundo.

Para todos, um Feliz, musical e amoroso Ano Novo! Até 2016!

terça-feira, 15 de dezembro de 2015

As duas lâminas da mesma espada



Minha mãe costumava dizer que a curiosidade matou o gato. Na minha inocência de criança, ficava apavorado: coitado do gatinho, onde ele foi se meter para merecer isso? Foi atropelado por um carro por querer saber o que havia do lado oposto da rua? Ou talvez se engasgou com um osso de galinha tentando bisbilhotar no lixo? Será que o mesmo aconteceria comigo se eu tentasse pegar um pouco de brigadeiro da panela que minha mãe ainda não tinha retirado do fogo? A causa, nunca soube ao certo, mas o mistério era o que tornava a frase tão arrepiante: o bichano pagou coma própria vida, seu mais precioso bem, o preço de meter o nariz onde não foi chamado.

É interessante que, na virgindade da alma de uma criança, reza a mais pura humanidade. Somos curiosos por natureza, inclusive nos menores e mais singelos detalhes do nosso cotidiano, como abrir uma revista de fofocas, ou até mesmo querer saber como estará o tempo no próximo final de semana, para tomarmos a decisão certa de viajar ou não para a casa de praia. A necessidade de compreender o mundo ao nosso redor caminha conosco junto com o caminhar das civilizações, desde o berço da sociedade. Buscar entender o nosso meio é o modo que o ser humano encontrou de entender a si próprio.

O diferente, o novo, o incerto foram os pontos de partida para a criação de mitologias, religiões dos mais diversos povos, de todos os cantos do planeta Terra. Tentar explicar os raios nas tempestades, a causa de doenças e pragas, ou qualquer mistério que foge do nosso controle inspirou (e ainda inspira) as maiores histórias produzidas durante nossa existência. É o cerne da natureza humana: o que está fora de nossas mãos avançou além da nossa zona de conforto e somos fadados a sempre querermos retornar à ela. Sim, exatamente, o misterioso é desconfortável. O misterioso nos instiga, nos faz questionar. Afinal, o que há no topo daquele monte na Grécia? O que há de tão mágico no fruto daquela árvore que nos foi proibido de comer?

É a habilidade de questionar, única entre os seres do planeta, que consiste no núcleo de nossa humanidade. A ciência nasce da nossa sede por explicações, por buscarmos essa compreensão, porém de maneira sistemática, experimental com base em repetições e observações, invariante de pessoa para pessoa, criando verdades universais. O mais curioso de tudo, no entanto, é percebermos que o ponto de partida de uma pesquisa científica é uma hipótese. Em outras palavres, é a partir de uma ideia que queremos testar que começa todo o trabalho de um pesquisador. Algo muitas vezes abstrato. A ciência e a ficção, que frequentemente são colocadas em faces opostas de uma moeda são, em essência, a mesma coisa. Enquanto as histórias nos dão a liberdade para transcendermos os limites do mundo que conhecemos, a ciência nos mantêm firmes ao chão, onde acontece a vida real. Ambas se complementam, suprindo a carência que temos por desvendar o misterioso: nossa curiosidade. Limitar-se a uma delas em detrimento da outra é limitar a capacidade humana. E algo que não conhecemos são nossos limites, principalmente os limites dos nossos sonhos!

Foi com a cabeça nas nuvens que superei a morte do gatinho, imaginando que, onde ele estivesse, estaria brincando com seus amigos, feliz e se divertindo, enrolado em novelos de lã fofinhos e coloridos. Mas foi com base em um experimento científico que eu descobri que o brigadeiro pode ser muito mais prazeroso quando esperamos ele esfriar um pouco entes de comer. Se hoje conseguimos acender uma lâmpada foi porque, em algum momento no passado, a mesma lâmpada se acendeu na imaginação de um grande cientista.

quinta-feira, 3 de dezembro de 2015

Nossos Desvios



Uma pesquisa de opinião é algo extremamente complicado de se fazer. É fácil, na verdade, se não estivermos interessados em um resultado consistente, como apenas confirmar uma ideia vaga, sem interesse em saber quem pensa diferente. Fazer uma pesquisa que ilustre a realidade de um grupo grande de pessoas (sem gastar muito tempo e dinheiro perguntando a cada membro) não é uma tarefa trivial. Uma das maiores dificuldades é a necessidade de escolher (quase que à dedo) um pequeno grupo de pessoas que equivale, em menor escala, ao perfil do universo que estamos interessados em desbravar. Fazer essa amostragem exige técnica e experiência, caso contrário o resultado poderá ser facilmente alterado. Essa alteração é chamada pelos estatísticos de viés, ou desvio.

Vieses são problemas corriqueiros em análise de dados. Quando se espera um certo padrão na distribuição de informações e algo completamente inusitado acontece, normalmente a amostra está sofrendo de algum desvio do gênero. Um exemplo clássico é medirmos a preferência eleitoral daquele ano em um protesto violento contra o governo. Ou, talvez, perguntarmos para quem foi demitido de uma empresa se gostaram de trabalhar no local. Ou ainda para um grupo de corintianos fanáticos se eles estão torcendo para o rival Palmeiras ganhar aquele campeonato que foram precocemente eliminados. Generalizar essas respostas como a opinião de uma população maior e mais complexa, com múltiplos pontos de vista, é um erro grosseiro. E, adivinhem, isso não acontece apenas com estatísticos.

Todos nós analisamos o mundo ao nosso redor, seja propositalmente ou devido ao trabalho magnífico do nosso inconsciente. Absorvemos milhares de informações diferentes por dia e cada uma delas recebe um tratamento específico pelo nosso cérebro. Basicamente, as submetemos a um filtro natural: o senso crítico. E é nesse ponto que a situação fica complicada. Nossa habilidade de interpretar novas informações é muito subjetiva, dependente muito da nossa cultura e do meio em que vivemos. O que ocorre é um fato muito curioso: muitas vezes achamos que estamos utilizando apenas a lógica ao confrontar situações e fazer a melhor decisão, mas estamos sendo enganados pela nossa própria mente. Involuntariamente, emoções, estímulos ou mesmo hábitos e manias interferem no nosso modo de pensar, desviando a construção do raciocínio e nos fazendo chegar a conclusões erradas. Esses efeitos são denominados Vieses Cognitivos.

Quando uma modelo de passarela está cercada por jogadores de um clube de basquete, tendemos a considerá-la baixinha, mesmo tendo quase dois metros de altura. O mesmo vale para homem de um metro e sessenta que se sente alto cercado de crianças. Essa diferença de opiniões por comparação com o meio ao redor é chamada de Viés de Contraste, agente causador de sentimentos como inveja, ciúmes e, como dizia uma grande pensadora contemporânea, o recalque. Em momentos que notamos mais os defeitos nos outros do que em nós mesmos, inclusive quando agimos da mesma forma (ou pior), estamos sob efeito do Viés do Ponto-cego. Situações em que buscamos de qualquer forma explicar o motivo daquela marca de torradeira cheia de problemas ser melhor do que as demais, apenas por ser a sua preferência pessoal, estamos sofrendo do Viés da Confirmação.

Assim como para os estatísticos uma amostra viesada deve receber um tratamento especial, como ser refeita por exemplo, vieses cognitivos podem ser solucionados com um pensamento menos superficial sobre os assuntos abordados. Ao entrar em um processo de aprendizado, devemos estar dispostos a quebrar paradigmas, sair da nossa zona de conforto e confrontar pontos de vista distintos, vindos de fontes diversas. Quanto maior a amostra e mais variada ela for, menor é a chance de ser tendenciosa e mais precisos serão os resultados. Devemos romper com nosso Viés da Congruência, que nos impossibilita de testar hipóteses alternativas, buscar conhecimento e chegar a uma conclusão mais precisa e consistente.

Queremos todos uma mudança para um mundo melhor. Estamos prontos para mudarmos nossa própria mente?

sexta-feira, 20 de novembro de 2015

Quem sou eu?


Afinal, o que nós seres humanos temos que nos torna tão diferentes das demais criaturas existentes em nosso planeta? Seria a nossa capacidade de aprendizado, baseado em observações? Ou por sermos a única espécie que destrói o meio ambiente em que vive? Ou ainda por sabermos manipular uma torradeira como nunca visto em nenhum outro lugar na Terra?

Pesquisadores na Universidade de Stanford uma vez treinaram uma gorila chamada Koko para se comunicar com linguagem de sinais. Koko sabia fazer de tudo: pedir comida, água, informar dores, expressar sentimentos e até mesmo ter gatinhos de estimação. Mas um fato intrigou os cientistas, algo estranho sob olhos humanos: a gorila não fazia perguntas. Koko não questionava sobre a sua condição em cativeiro, não tinha curiosidade em trocar informações com os seus tratadores, nem mesmo querer saber porque a comida naquele dia estava ligeiramente mais fria daquela que comeu no anterior.

 A conclusão que os cientistas finalmente chegaram é bastante reveladora e curiosa. A primata não tinha consciência de sua individualidade. Como se todos os indivíduos compartilhassem os mesmos conhecimentos sobre quaisquer fatos e emoções que passavam por suas mentes. O que para nós, humanos adultos e autoconscientes, soa como um grande absurdo. Ora, onde já se viu não saber distinguir entre o que se passa em seu pensamentos do que passa na cabeça dos outros?

O desenvolvimento da individualidade se mistura com o desenvolvimento da própria humanidade. A auto-expressão, seja por música, danças e rituais são constantes em praticamente todas as civilizações primitivas e (porque não?) modernas também. Foi com o amadurecimento do senso de questionamento que nasceram as primeiras crenças e religiões, buscando um explicação para fenômenos que simplesmente aconteciam, mas que ninguém entendia como funcionavam. Foi com o o avanço dessa sede por conhecimento que surgiu a ciência e o método científico. É essa vontade de saber que move e sempre moveu a civilização à frente.

Como posso juntar mais alimento sem precisar caçar tanto? É possível viver mais, morrer menos por doenças? E se nos organizarmos em grupos, cada um com sua função? Como posso ganhar mais dinheiro sem trabalhar tanto? De onde viemos? Qual o segredo da vida, do universo e tudo mais? Como usar a energia elétrica para tostar mais ou menos um pão? Como fazer para estocar vento?

O que conhecemos hoje como mundo contemporâneo é fruto de milhares de anos executando uma tarefa que Koko e seus parentes são incapazes de fazer: pensar por nós mesmos. E além disso, explorar nossa curiosidade e seus deslimites.

Se o egocentrismo humano é a causa dos maiores problemas do nosso mundo atualmente, foi a noção de individualidade que nos fez chegar onde estamos. Apenas fomos capazes de resolver grandes perguntas durante nossa história porque alguém, em algum lugar, teve a ousadia de questioná-las.